Apenas dois jornais
reservaram um espaço pequeno de duas páginas inteiras para anunciar, não o fim
do mundo, mas uma parte do que vem depois do fim.
E, ponta a ponta das duas páginas
seguiam com a entrevista do poeta Ney Ferraz Paiva que desviando o olhar dos
flashes, acertava em cheio os repórteres com suas respostas em profundidade. E
assim, todos entendiam o resultado do tão esperado Prêmio Rapticula de
Literatura, na Categoria Poesia (des)Necessária?
Em entrevista para os jornais The New York Time e Le Monde, Ney Paiva disse nem mesmo saber que estaria disputando um
prêmio literário. Não sabe, até os dias de hoje, como o nave do nada (nome da obra vencedora) foi parar nas mãos do júri do
Prêmio Rapticula de Literatura.
E quando foi interrogado da
importância do prêmio e da categoria, o poeta disse que nunca pensou ser
companhia dos clássicos nas estantes e disse saber que a categoria Poesia
(des)Necessária deveria ser tão respeitada, porque julga que os livros deveriam
estar nas mãos dos leitores e não fechados em certas estantes ao lado de nomes
conhecidos de obras nem sempre lidas.Talvez o nave do nada tenha sobrevoado tantos espaços vazios, tantas cabeças desocupadas e por isso tenha feito um pouso forçado nas fronteiras do júri Rapticula.
Talvez Deus saiba dizer do percurso e
da chegada do nave do nada neste novo
destino. Mas eu sou ateu e não tenho interesse algum em perguntar pra ele.
Disse Ney Ferraz Paiva na sua
entrevista de duas páginas dos jornais Le
Monde e The New York Time.
E seguimos com um pequeno pedaço da
asa do nave do nada:
Sentado na
cadeira do poeta
Eu vi o
maro mar & sua serpente sépia
o fervor a pronúncia áspera das águas
de uma palavra que conduza os mortos para o outro mundo
boca que a loucura gostaria de ter
mar em que o último irmão se removeu até o fundo
arrastado pelos pássaros
cansado de nada encontrar
tudo o que não fala tem uma segunda morte.
nave do nada. p.73