ilustração de João Caetano. Roubada do livro A maior flor do mundo
Nasceste em noite de loucura,
nascituro sim, e os primeiros sinais foram precedidos por arrepios fugazes de
um gozo inocente, prazer restituído, aproximação maravilhosa, encontro aquecido
a cada segundo em que tua imagem mergulhava em nitidez.
Ver teu ombro primeiro, depois a nuca
e ver ainda inflamar-se o desejo de trazer-te inteiro, arrancar-te do limbo das
nebulosas, acariciar com o meu temor a fronte pálida. Tomar-te nos braços e
iniciar o rito banindo primeiro a malícia, os arrependimentos, a mentira.
Escolher as palavras, as sagradas
sim, iniciar o gestual do encantamento, o eterno rir, proteger teu corpo
buscando a perfeição. Não ter descuido, antes cuidar para que a insensatez não
se enredasse nesse enredo.
Sensível, desprezar o perverso, fugir
dos malefícios. Umedecer teu chão, plantar-te, nomear-te, fazer-te verbo.
Vigília iniciada, vigília empreendida, localizar casa e casal, demarcar território
e edificar o tempo da memória.
Houve que um dia nem pela terceira vez
o cantar do galo foi ouvido. Um malsinado gesto interrompeu origem e saga e,
para punir o sono da vigília, a dor foi imposta sem misericórdia.
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